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Por Fernanda Nepomuceno
fernanda.silveira@tvjangadeiro.com.br

No Dia Internacional da Mulher, comemorado nesta quinta-feira, 8 de março, o Jangadeiro Online conversou com o psicólogo Álvaro Rebouças, que respondeu dúvidas sobre assuntos relacionados a “primeira vez” das mulheres adolescentes. Confira a entrevista.

Jangadeiro Online: Porque as meninas estão entrando cada vez mais cedo na vida sexual?

Álvaro: As meninas de hoje são bem diferentes das meninas de 40 ou 50 anos atrás que primavam pela virgindade e desenvolviam relações sexuais apenas quando casadas. Elas descobriram, por meio da modificação trazida pela revolução sexual e feminina dos anos 60, 70 e 80, que não precisavam se manterem virgens para o casamento, destituindo o casamento como o espaço privilegiado da sexualidade feminina. O casamento atendia a duas contingências sociais e familiares: primeiro, de reproduzir filhos para o marido patriarca e segundo, de distração para o marido. Deste modo, com o questionamento dos padrões burgueses e patriarcais as meninas começaram a desafiar a proibição do sexo antes do casamento e a assumir sua sexualidade e fantasias cada vez mais cedo, conforme se destituíam o antigo papel da mulher na sociedade e na família. Hoje, percebemos que as jovens adolescentes com “liberdade” e vontade de conhecer os prazeres do sexo buscam no envolvimento se conhecerem como mulheres. O receio de não serem aceitas como virgens levam muitas meninas a manterem relações sexuais precocemente para pertencerem ao grupo que se identificam.

Jangadeiro Online: O que acontece quando a menina tem um contato sexual muito precoce? Isso causa algum prejuízo na formação e amadurecimento?

Álvaro: O contato sexual é uma descoberta pessoal em muitos aspectos: primeiro, que o indivíduo existe, é percebido e pode manifestar por meio de seu corpo e de sua sexualidade e, segundo, que o contato interpessoal marca o compartilhamento de uma existência diferente e separada da própria. Assim, quando o encontro ocorre prematuramente (e quando uso o termo prematuramente estou me referindo à preparação emocional e informativa sobre este momento) a menina, talvez, não esteja preparada para as consequências positivas da descoberta do prazer e negativas da possibilidade de uma gravidez não planejada, da intensificação e manutenção da vida conjugal com um ou vários parceiros, além da possível ampliação dos conflitos inerentes à adolescência com os pais e com a própria imagem. Ainda, da possibilidade real de contrair alguma doença sexualmente transmissível ou até AIDS em uma relação sexual sem a utilização de preservativo (camisinha).

Para as meninas, o primeiro contato sexual marca um momento crucial de transição de um papel eminentemente infantil para um pré-adolescente ou adolescente que é recheado de descobertas e conquistas. Muitas vezes, se mostra, na realidade, diferente do que imaginavam e fantasiavam. Porém, é um momento muito importante de compreensão de aspectos de si mesmo e da relação com o outro que passa a ser revelado abruptamente e, talvez, este seja o grande prejuízo. Não se sabe o quanto de suporte emocional esta adolescente possui para compreender este novo mundo de sensações, sentimentos, imagens e relações que surgem repentinamente para uma menina, que de um momento para o outro se vê como mulher em uma relação intensa e exigente com outra pessoa diferente sem nenhuma garantia de segurança e acolhimento.

Jangadeiro Online: A partir de que idade as meninas estão iniciando a vida sexual?

Álvaro: De acordo com minha experiência e informações coletadas na Internet de trabalhos realizados nesta área, a idade do primeiro contato sexual é, em média, em torno dos 14 ou 15 anos. Esta idade tende a se reduzir, pois, existem casos de garotas de 12 ou 13 anos, e algumas com menos, relatando já terem tido o primeiro contato sexual.

Jangadeiro Online: Como que elas encaram a primeira vez?

Álvaro: As meninas encaram como um momento de descoberta tanto positiva como negativa, já que na realidade ambas andam juntas. Descobrem a sexualidade feminina, o prazer de estar com o outro, a intimidade e o contato com uma pessoa desejada, mas também descobrem as dificuldades inerentes à primeira vez como o rompimento do hímen ou não, a falta de experiência pessoal e do companheiro na preparação e no ato sexual, as doenças sexualmente transmissíveis, a gravidez não planejada e os conflitos familiares que podem surgir ou ser ampliados após este momento.

Jangadeiro Online: É somente a mulher que sente medo desse primeiro contato?

Álvaro: Não é verdade, tanto a menina quanto o menino sente medo neste primeiro encontro. Para a menina, existe uma idealização relacionada a esse início que pode ser e, muitas vezes, é frustrante. Para os meninos, também, pois ambos não possuem experiências anteriores que possam se apoiar. E a frustração das meninas pode ocorrer quanto à falta de romance e o despreparo dos meninos pode ser sentido como cobrança de ereção e bom desempenho sexual, fato que eles, nem depois podem garantir. Portanto, é um momento desejado, mas, extremante ansiogênico para ambos, pois este é cercado de idealizações e fantasias corroboradas pela mídia quando não informam em sua totalidade o que compõe este momento, ou seja, aspectos positivos e negativos.

Jangadeiro Online: Quais as dúvidas mais frequentes entre as adolescentes sobre o assunto? Você pode tirá-las?

Álvaro: As dúvidas mais frequentes que escuto são: “Será que vai ser bom ou vou sentir dor?”, “quando o hímen se rompe, sangra? E se não sangrar?”, “Vou sentir orgasmo? Como posso identificá-lo?” Será que ele ainda irá gostar de mim depois da transa?”, “Se eu fizer sexo sem camisinha posso engravidar?” “Será que ele me achará fácil por ter proposto sexo no primeiro encontro? Como serei vista por ele se eu propuser, na primeira vez, o uso da camisinha?” Algumas destas dúvidas podem ser solucionadas pelos pais, em conversas abertas com suas filhas e filhos, mas, alguns pais podem recorrer ao conhecimento profissional de médicos e psicólogos para encaminhar ou solicitar informações mais completas sobre essas dúvidas.

Jangadeiro Online: Como os pais podem ajudar durante este processo?

Álvaro: Os pais ajudam quanto se colocam abertos para o diálogo, mesmo que este seja um momento de dor pela imagem da filha criança que se transforma à sua frente. Geralmente, questões pessoais relacionadas à sexualidade ou aos primeiros encontros sexuais dos pais, em sua adolescência, podem surgir como meios de reviver e rever as questões não expressas durante a sua história de desenvolvimento maturacional. Pode ser um período adequado para trabalhá-las em um atendimento psicológico próprio ao invés de atuá-las na relação com a filha ou filho. Deste modo, os pais podem ajudar apoiando, aconselhando, compartilhando o que for positivo para a instrução, mas, principalmente, se disponibilizando e amando.

Sobre Álvaro Rebouças

Álvaro Rebouças

Graduado (1997) e licenciado (2003) em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará. Especialista em Psicodrama pelo Instituto de Psicodrama e Máscara (2005). Mestre em Psicologia pela Universidade de Fortaleza (2005). Professor de Psicologia da Família do curso de Psicologia (UNIFOR). Supervisor de estágios clínicos no Serviço de Psicologia Aplicada (SPA/NAMI/UNIFOR). Professor do módulo de casal e família do Instituto de Psicodrama e Máscara. Autor do livro: “O Poder nas Relações Conjugais: uma investigação fenomenológica das relações de poder no casamento (2010)”. Psicólogo clínico com ênfase em psicoterapia, acompanhamento, tratamento e prevenção psicológica em processos individuais e conjugais, na clínica privada. Contato por e-mail: alvaro.reboucas@unifor.br

 

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